MOREIRA, P. R. S., MUGGE, Miquéias Henrique. Histórias de escravos e senhores em uma região de imigração europeia. São Leopoldo/RS: Oikos, 2014. R$ 20
Os imigrantes europeus – no nosso caso especificamente os alemães – que se deslocaram para o Brasil no século XIX, conheceram intimamente a escravidão negra. Muitos deles, inclusive, possuíram cativos, e/ou os alugaram, açoitaram, venderam, alforriaram. No caso do Rio Grande do Sul, os imigrantes alemães começaram a chegar em 1824 e foram instalados na Colônia Imperial de São Leopoldo, de onde se espraiaram pela província e para fora dela. Praticamente paralela à constituição de uma sociedade escravista nesta área de colonização europeia, forjou-se uma historiografia apologética que destacou esta imigração como propugnadora de novos valores morais e econômicos, quais sejam, a poupança, o amor, a família, a religiosidade, a regeneração do trabalho manual. Nosso intento neste livro é propor reflexões sobre as inter-relações entre estes colonos e os escravos africanos e seus descendentes que ali conviviam. No caso específico da historiografia sul-rio-grandense, percebemos que tal assunto apresenta lacunas, gerando um véu de invisibilidade que encobre as populações afrodescendentes residentes nas áreas de imigração europeia, com reflexos até a atualidade.
O livro Tudo pelo trabalho livre traz como abordagem a história social dos trabalhadores ferroviários da Bahia, maioria negros, no período pós-abolição e nos anos iniciais do período republicano (final do século XIX e início do século XX). Esta obra focaliza dimensões importantes das trajetórias desses trabalhadores, tais como as suas experiências associativas, os espaços de sociabilidades, a organização do processo de trabalho, as lutas em torno de direitos trabalhistas e conquistas, os seus movimentos de resistência e os conflitos sociais.
Os conflitos vivenciados pelos trabalhadores por aqueles revelaram impasses da sociedade brasileira, a exemplo dos embates relacionados às tentativas de exploração, de controle e de disciplinarização da força de trabalho entre o final do séc. XIX e início do séc. XX. Nesse contexto, ampliar formas de exploração e o controlar o tempo, a autonomia e a liberdade dos trabalhadores era, assim, uma questão central para os patrões e para as elites brasileiras (muitos deles ex-senhores de escravos).
Apesar de toda a repressão, esses trabalhadores tentaram resistir às formas de exploração, às relações de trabalho que lembravam o regime escravista e às tentativas abertas e veladas de manter sob domínio as suas liberdades. As ações e as lutas empreendidas por esses homens, no contexto do pós-abolição na Bahia, são capítulos importantes para a compreensão de um momento da história social do Brasil.
SOUZA, Rafael de Freitas e. O ouro gosta de sangue: A Mina da Passagem de Mariana (1863-1927). Belo Horizonte: Editora O Lutador, 2015. 388 p. R$ 15
Sob a perspectiva da história social do trabalho, a obra enfoca a história da mineração aurífera em Minas Gerais quando companhias inglesas assumiram o controle de minas consideradas esgotadas – o chamado “período inglês” - tema ainda pouco explorado pala historiografia, voltada principalmente para as explorações setecentistas.
Trata-se do primeiro estudo acadêmico dedicado exclusivamente à Mina da Passagem localizada no Distrito de Passagem na cidade de Mariana quando esteve sob o controle de duas companhias estrangeiras, a AngloBrazilian Gold Company e a The Ouro Preto Gold Mines of Brasil Limited entre 1863 e 1927.
O livro conduzirá o leitor por diferentes “galerias” do mundo do trabalho na mineração tangenciando e interligando temas tais como as inovações técnicas, o emprego da mão de obra escrava e do trabalho livre de nacionais e imigrantes europeus, o tentacular poder político das companhias, a inserção da religião protestante no distrito com seu templo e cemitério próprios, as entidades metafísicas subterrâneas, a cultura material do mineiro, as novas práticas esportivas e dietéticas, os festejos, as tradições populares, as formas de organização dos trabalhadores, os acidentes de trabalho, as doenças ocupacionais, as epidemias, a taxa de criminalidade, o trabalho infantil e feminino,a evasão escolar e o desmatamento.
Por isso, o mundo do trabalho na mina e a vida fora dela foram analisados sob uma perspectiva dialeticamente complementar. Uma verdadeira “garimpagem” de conhecimentos. Buscou-se levantar a “baeta de ferro” que encobre a trajetória das companhias auríferas inglesas que atuaram em Minas Gerais no período em foco.
SPERANZA, Clarice Gontarski. Cavando direitos: as leis trabalhistas e os conflitos entre os mineiros de carvão e seus patrões no Rio Grande do Sul (1940-1964). São Leopoldo: Oikos - Coleção Anpuh/RS, 2014, p. 295. R$ 35
Cavando direitos - as leis trabalhistas e os conflitos entre os mineiros de carvão e seus patrões no Rio Grande do Sul (1940-1954)", de Clarice Gontarski Speranza, mergulha o leitor no universo das minas gaúchas, onde trabalhavam milhares de homens em meados do século XX. Mesmo sujeitos a duras jornadas de trabalho, estrito controle patronal, e risco permanente de invalidez ou morte por doenças e acidentes, esses operários souberam utilizar diversas estratégias de enfrentamento no seu dia a dia, desde a mobilização coletiva (com greves marcadas por extrema coesão) até a recusa individual de trabalhar, passando pelo uso reiterado da Justiça do Trabalho para reivindicar direitos.
A obra, fruto da tese de doutorado da autora, apresenta o cotidiano dos mineiros das vilas de Arroio dos Ratos, Butiá e Minas do Leão, além de analisar as disputas que protagonizaram contra as empresas mineradoras. Em um dos episódios narrados, a greve de 1946, os trabalhadores interromperam o fornecimento de carvão que gerava a energia elétrica de boa parte do estado, paralisando virtualmente a capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, por vários dias.
Cavando direitos - as leis trabalhistas e os conflitos entre os mineiros de carvão e seus patrões no Rio Grande do Sul (1940-1954)" foi vencedor do Prêmio ANPUH/RS de teses de 2014, e conta com prefácio de Benito Bisso Schmidt (UFRGS), orientador da pesquisa, e texto na contracapa de Silvia Petersen (UFRGS). A edição é da ANPUH/RS e da Oikos, com apoio do Memorial da Justiça do Trabalho no Rio Grande do Sul.
NONNENMACHER, Marisa Schneider. Tudo começou em uma madrugada: Sociedade beneficente Cultural Floresta Aurora (1872-2015). Porto Alegre, Medianiz, 2015. R$ 40
Tudo começou em uma madrugada: Sociedade Beneficente Cultural Floresta Aurora (1872 -2015) é o resultado de uma preciosa investigação histórica sobre a caminhada de uma associação que comemorará, em poucos anos, o sesquicentenário como a mais antiga sociedade de afrodescendentes do Brasil. Tendo como base os periódicos do século XIX, foi possível reconstituir o momento da fundação da Sociedade Floresta Aurora, em 1872, em pleno cenário abolicionista, e seguir acompanhando, sempre com farta documentação, as notícias relativas às suas realizações tais como, os eventos culturais e artísticos que demonstram a atuação regular da Floresta Aurora nos eventos musicais, nas encenações teatrais, nos bailes e festas, nos congressos e carnavais de Porto Alegre, do século XIX ao XXI. Escrever a história da Sociedade Floresta Aurora é contribuir para iluminar, um pouco mais, a trajetória de construção autônoma da população afro-brasileira, como a oportunidade de conhecer um exemplo de luta, de convicção no amanhã e na transformação do homem.
28/10 - 18h às 18h30 - APERS
WEIMER, Rodrigo de Azevedo. Felisberta e sua gente: Consciência histórica e racialização em uma família negra no pós-emancipação rio-grandense. Rio de Janeiro: FGV Editora/FAPERJ, 2015, 272 p. R$ 42
Situando o quadro histórico de uma família negra do litoral norte do Rio Grande do Sul ao longo de quatro gerações – de escravos, de camponeses, de migrantes, de quilombolas –, discute-se, na perspectiva da história da memória, as metamorfoses das formas como cada geração lembrou-se de seu passado no pós-abolição. As noções de “história” e “memória” são costuradas por meio dos conceitos de “racialização”, que intermedeia os capítulos através de “interlúdios” nos quais são discutidas as experiências raciais vividas por aquela coletividade, e de “consciência histórica”, que denota um olhar crítico a respeito de seu próprio passado, não coincidente, é evidente, com a perspectiva do historiador. A consciência histórica contemporânea politiza de uma forma sem precedentes a memória do cativeiro. A obra, contudo, evita hierarquizá-la em relação a consciências históricas mais “tradicionais”; pelo contrário, elas são conectadas através de circuitos de compartilhamento da memória, geralmente passada e ressignificada entre avós e netos. O livro conta com uma apresentação de autoria da Prof. Dr. Hebe Maria Mattos e com orelha de autoria da Prof. Dr. Martha Abreu.
O livro foi contemplado com o prêmio de teses promovido pelo PRONEX – NEC, NUPEHC e LABHOI da Universidade Federal Fluminense, onde originalmente foi apresentado como trabalho de doutorado.
A obra, fruto da tese de doutorado da autora, apresenta o cotidiano dos mineiros das vilas de Arroio dos Ratos, Butiá e Minas do Leão, além de analisar as disputas que protagonizaram contra as empresas mineradoras. Em um dos episódios narrados, a greve de 1946, os trabalhadores interromperam o fornecimento de carvão que gerava a energia elétrica de boa parte do estado, paralisando virtualmente a capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, por vários dias.
Cavando direitos - as leis trabalhistas e os conflitos entre os mineiros de carvão e seus patrões no Rio Grande do Sul (1940-1954)" foi vencedor do Prêmio ANPUH/RS de teses de 2014, e conta com prefácio de Benito Bisso Schmidt (UFRGS), orientador da pesquisa, e texto na contracapa de Silvia Petersen (UFRGS). A edição é da ANPUH/RS e da Oikos, com apoio do Memorial da Justiça do Trabalho no Rio Grande do Sul.
NONNENMACHER, Marisa Schneider. Tudo começou em uma madrugada: Sociedade beneficente Cultural Floresta Aurora (1872-2015). Porto Alegre, Medianiz, 2015. R$ 40
Tudo começou em uma madrugada: Sociedade Beneficente Cultural Floresta Aurora (1872 -2015) é o resultado de uma preciosa investigação histórica sobre a caminhada de uma associação que comemorará, em poucos anos, o sesquicentenário como a mais antiga sociedade de afrodescendentes do Brasil. Tendo como base os periódicos do século XIX, foi possível reconstituir o momento da fundação da Sociedade Floresta Aurora, em 1872, em pleno cenário abolicionista, e seguir acompanhando, sempre com farta documentação, as notícias relativas às suas realizações tais como, os eventos culturais e artísticos que demonstram a atuação regular da Floresta Aurora nos eventos musicais, nas encenações teatrais, nos bailes e festas, nos congressos e carnavais de Porto Alegre, do século XIX ao XXI. Escrever a história da Sociedade Floresta Aurora é contribuir para iluminar, um pouco mais, a trajetória de construção autônoma da população afro-brasileira, como a oportunidade de conhecer um exemplo de luta, de convicção no amanhã e na transformação do homem.
FERRERAS, Norberto; SECRETO, Maria Verónica. Os pobres e a política. História e Movimentos sociais na América Latina. Mauad, RJ, 2013 .R$ 20
O principal tema deste livro, que emerge constantemente em cada um de seus capítulos, é o da subjetividade dos excluídos da História. Este assunto é central para todo pesquisador dos setores subalternos que procura a construção de alternativas num mundo de exclusão. Qual o lugar do território e da terra na formação dos movimentos sociais? De que forma o trabalho chega a ser análogo à escravidão? Ser um trabalhador em condições semelhante às da escravidão é o mesmo que ser um escravo no século XIX? Como as sociedades se vinculam a essas questões? São algumas das questões abordadas na obra, que desconstrói análises que figuram como consagradas e cristalizadoras.
O livro foi contemplado com o prêmio de teses promovido pelo PRONEX – NEC, NUPEHC e LABHOI da Universidade Federal Fluminense, onde originalmente foi apresentado como trabalho de doutorado.
GILL, Lorena Almeida; SCHEER, Micaele Irene. À beira da extinção: memórias de trabalhadores cujos ofícios estão em vias de desaparecer. Pelotas: Editora UFPel, 2015. R$ 20
Este livro é o resultado de um esforço de vários anos da equipe de pesquisadores do Núcleo de Documentação Histórica da UFPel (NDH), no sentido de unir duas ferramentas importantes da metodologia histórica, a história oral com os acervos da área do trabalho, como o arquivo com as fichas espelho da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul e os processos da Justiça do Trabalho, principalmente a partir do projeto “À beira da extinção: memórias de trabalhadores cujos ofícios estão em vias de desaparecer”. Embora haja denominadores comuns, os capítulos apresentam diferenciações, não só em relação à profissão estudada, mas, principalmente, quanto ao enfoque específico de cada pesquisador. Por outro lado, nota-se um bom entrosamento teórico, fruto de muitas discussões em grupo sobre método e teoria em História aplicadas a este projeto.